Lacuna de produtividade

A redução das lacunas de produtividade aumenta a segurança alimentar em regiões do mundo com problema de oferta de alimentos, diminui a conversão de terra com vegetação nativa para produção agrícola naquelas regiões ainda com avanço da fronteira e promove aumento da renda de agricultores por meio de adoção de tecnologia. É uma solução que traz benefícios para os consumidores, para os agricultores e para a conservação ambiental.

Lacunas ocorrem quando regiões com condições de produção similares apresentam diferenças elevadas de produtividade. Ou seja, lacunas são resultado de níveis de adoção e de disponibilidade de tecnologia bem diferentes. Os obstáculos para reduzir as lacunas estão mais relacionados ao acesso aos meios de adoção por parte dos agricultores e das cadeias produtivas do que de disponibilidade de tecnologias.

O Brasil é uma das regiões mais produtivas do mundo em agricultura não somente em volume produzido, como também em produtividade. É velha conhecida a informação que a área plantada de grãos cresceu 42% nos últimos 30 anos, ao passo que a produção teve crescimento de 228%. Usando outra referência, enquanto a área plantada avançou em 17 milhões de hectares, a produção se expandiu em 133 milhões de toneladas, gerando um ganho de produtividade de 3,2% ao ano.

Grãos forrageiros (milho, sorgo, aveia, centeio), oleaginosas (soja, canola, girassol) e fibras (algodão, entre outros) ocupam uma vasta área cultivada. Juntos eles somam cerca de 640 milhões de ha no mundo, de um total de 1,5 bilhão de ha ocupados com lavouras. O Brasil é um grande produtor mundial destes produtos, sobretudo milho, soja e algodão. Para isso utiliza ao redor de 40 milhões de ha, ou seja, 6,5% do total mundial.

Brasil, juntamente com países da América Latina, Sul e Sudeste da Ásia, China, África Subsaariana e as nações da CEI (Rússia, Ucrânia e demais ex-membros da URSS) formam o grupo de países emergentes ou em desenvolvimento com relevância na produção agrícola. Essas regiões juntas somam 302 milhões de ha plantados de grãos forrageiros, oleaginosas e fibras, ou seja, 47% do total mundial.

As disparidades de produtividade entre essas regiões, no entanto, são enormes. Se essas regiões tivessem os níveis de produtividade do Brasil, seriam utilizados 78,5 milhões de ha a menos para produzir os volumes atuais. A área cultivada nessas regiões seria 26% menor.

Comparar a produtividade brasileira com as dos países do Sul e do Sudeste asiático, da China e da CEI não é necessariamente correto por conta das diferenças de condições de produção e aptidão para a agricultura. É mais correto fazer a comparação com os demais membros da América Latina e com os países da África Subsaariana.

Como é de esperar, a lacuna de produtividade dos demais países da América Latina, quando confrontada com os níveis brasileiros, é muito menor do que no caso da África Subsaariana. Se os demais países da América Latina tivessem os níveis de produtividade do Brasil, a área cultivada seria 17% menor, economizando 8,2 milhões de ha. Já no caso da África Subsaariana, a produtividade brasileira levaria a uma área cultivada 65% menor, poupando 38,5 milhões de ha.

Nos grãos forrageiros, oleaginosas e fibras, a produtividade dos países da África Subsaariana é, respectivamente, 33%, 73% e 28% dos níveis brasileiros, demonstrando que o espaço para expandir a produção via produtividade é muito grande nestes países.

O Brasil levou 30 anos para atingir os níveis correntes de produtividade. Quando comparado com a África Subsaariana, os 30 anos são um período longo. No entanto, diferentemente do passado, a tecnologia de produção de alta produtividade hoje está disponível para as regiões tropicais. A disponibilidade das tecnologias vai encurtar esse período. Ademais, as perspectivas de ganhos com produção agrícola e valorização da terra já são maiores na África do que no Brasil, o que deverá começar a atrair empreendedores brasileiros que veem nas lacunas de produtividade uma oportunidade de negócios.

É DIRETOR DA AGROICONE

Download: 140516083442_lacuna-de-produtividade-oesp-1605.pdf

Fonte: O Estado de S.Paulo

Autor: André Meloni Nassar

 

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