Agroicone: Pesquisa mede viabilidade econômica de plantio

Plano brasileiro de recobrir 12 milhões de hectares com árvores exigirá investimento R$ 3,7 bilhões ao ano até 2030

Sergio Adeodato
Fonte: Valor Econômico

Repor árvores nativas para resolver passivos do desmatamento e plantá-las com a finalidade comercial de produzir madeira, alimento e biomassa para energia tem sido uma estratégia defendida no mundo como chave para o controle do aquecimento global e a conservação de recursos vitais, como a biodiversidade e a água.  O Brasil embasou parcela expressiva do compromisso climático apresentado à ONU no plantio de 12 milhões de hectares de mata para usos múltiplos até 2030.  Mas a viabilidade do desafio, que deve ser atrativo a investidores para ganhar escala, exige fechar uma complexa conta financeira, alvo atual de estudos no país e no exterior.

O mais recente deles, pronto para ser lançado pela consultoria Agroicone, compilou os custos da atividade em oito Estados, conforme diferentes técnicas e condições ambientais das regiões, e concluiu: deixar a floresta se regenerar naturalmente – o que ocorre somente em locais com determinadas condições de solo, relevo e clima – é em média dez vezes mais barato do que plantar mudas, método que gira em torno de R$ 9 mil por hectare, se o próprio produtor fizer o trabalho (sem custo de diagnóstico e monitoramento).  O valor pode chegar a R$ 17,4 mil, como nas áreas de alta declividade em São Paulo.  A semeadura direta (muvuca de sementes), quase três vezes mais em conta que as mudas, é a solução de custo intermediário.

“A partir de agora devemos mapear as áreas com potencial de regeneração natural para concentrar os esforços, embora o plantio de mudas permaneça importante para proteger água em regiões sensíveis”, afirma Laura Antoniazzi, pesquisadora da Agroicone.  Ela justifica: “Chegar a números mais precisos significa maior segurança ao planejamento e políticas públicas para avançarmos na agenda da restauração”.

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Na corrida por modelos factíveis, o projeto mediu também a oportunidade de receita com a produção de madeira mediante sistemas silviculturais nas reservas legais – áreas de conservação obrigatória nas propriedades rurais.  No cenário mais otimista, considerando maior índice de produtividade e melhor preço de venda, o estudo chegou a uma taxa interna de retorno de 6% a 12%, em São Paulo, para o caso de plantio de árvores nativas consorciadas com eucalipto, por 40 anos.  A receita, porém, é influenciada pelas condições dos mercados locais e pela competição da madeira legal com a ilegal, que é predominante.  Antoniazzi ressalva: “São necessárias pesquisas aprofundadas e mais experiências de campo”.

 

“O caminho está na parceria público-privada, com forte engajamento de investidores e empresas”, diz Roberto Waack, membro da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, que articula a criação de uma plataforma tecnológica que custará inicialmente R$ 100 milhões para viabilizar plantios florestais com espécies nativas para uso econômico e conservação.

Na construção do quebra-cabeças, estudo divulgado neste ano pelo Instituto Escolhas aponta que o plano brasileiro de recobrir 12 milhões de hectares com árvores exigirá investimento R$ 3,7 bilhões ao ano até 2030, com plantio de metade da área com eucalipto.  Baseado na realidade da Amazônia e Mata Atlântica, o modelo prevê taxa de retorno financeiro de 4% com madeira e implicaria na criação de 215 mil empregos.

“Há grande oportunidade para redução de custos com ganho de escala, reestruturando viveiros e toda a cadeia produtiva da restauração florestal”, ressalta Rubens Benini, especialista sobre o tema na The Nature Conservancy (TNC).  A ONG levantou os custos para todos os biomas brasileiros e os dados serão cruzados com o mapa do potencial da regeneração natural, em desenvolvimento pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) e World Resources Institute (WRI).  Segundo propõe o Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa, a cargo do MMA, 50% da área a ser restaurada no país poderão ter árvores de volta sem a necessidade do plantio de mudas.

No Espírito Santo, onde há uma política para aumento da vegetação nativa mediante pagamento a produtores rurais, a TNC iniciou estudo sobre como o setor é capaz de movimentar a economia e impactar o PIB estadual.  O objetivo é encontrar modelos de restauração baseados nos mercados regionais.  No Mato Grosso, o plano é recuperar 2,9 milhões de hectares de floresta até 2020 para acabar com passivos ambientais e a imagem de vilão do desmatamento, evitando sanções comerciais ao agronegócio.

“Buscamos conhecimento sobre o que dá certo, porque o custo é alto”, justifica Divino Silvério, pesquisador do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).  Em Querência (MT), a instituição mantém uma base científica com experimentos que avaliam a eficiência de seis diferentes métodos de restauração florestal.  Uma área se destina a pesquisas sobre como as antas contribuem com o processo por meio da dispersão de sementes contidas nas fezes.  No futuro, ações para conservação dessas espécies poderão ser estratégicas, no contexto de um futuro  e de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA).


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